Guerra portuguesa com "generais" espanhóis
Discreto ao longo da época, Blanco, vencedor de 2006 e 2008, e Guerra, segundo classificado no ano passado, são os "generais" espanhóis que, de 5 a 16 de Agosto, vão comandar o previsível confronto entre as equipas portuguesas Palmeiras Resort-Prio e Liberty Seguros ao longo dos 1.601 quilómetros de corrida.
"Se dissesse que não penso em ganhar estava a mentir", assume o galego de 34 anos, apontando Guerra como principal adversário, sobretudo pela sua capacidade no contra-relógio: "tenho de tentar atacá-lo na montanha, porque nos 'cronos' é difícil. (...) Nunca vira a cara e é complicado competir com ele".
Vencedor do GP Joaquim Agostinho e da "sua" Volta a Madrid, Guerra, "depois de fazer dois segundos lugares (2006 e 2008) e um terceiro (2007)", quer "conquistar a Volta" aos 31 anos, mas não vê assim tanta vantagem e sublinha que "Blanco também é muito forte no contra-relógio", elegendo-o como "rival mais duro" a par de Tiago Machado.
Secundados respectivamente por Cândido Barbosa e pelo campeão de Espanha de fundo, Ruben Plaza - dois "órfãos" da extinta equipa do Benfica e também eles potenciais candidatos -, Blanco e Guerra olham com desconfiança para aquele que é a grande esperança de um ciclismo luso sedento de "heróis" desde 2003, ano da vitória de Nuno Ribeiro.
Para o corredor da Madeinox-Boavista, nono classificado e melhor jovem em 2008, os maiores "handicaps" poderão ser a inexperiência (23 anos) e a debilidade da sua equipa face às mais bem apetrechadas "armadas" de Tavira e da Charneca do Milharado.
"É claro que vou com alguma ambição, porque quero melhorar o que fiz no ano passado e se o fizer acho que estou no bom caminho", disse o corredor de Famalicão, campeão nacional de contra-relógio.
O primeiro "campo de batalha" será a Av. da Liberdade, palco do prólogo de quarta-feira, precisamente um "crono" de 2.400 metros que desce e sobe a principal artéria de Lisboa para estabelecer a hierarquia inicial e que até poderá ter outros protagonistas além dos especialistas.
Aliás, os 11 dias de corrida, intercalados por uma jornada de repouso, vão proporcionar até à fase decisiva (as duas últimas etapas) emoções para lá da luta dos favoritos, com outros intervenientes.
Num segundo plano, Eladio Jimenez e João Cabreira (CC Loulé) ou Bruno Pires e David Bernabéu (Barbort-Siper), vencedor de 2004, poderão evidenciar-se. Jimenez é mesmo candidato a vencer nas duas chegadas de montanha, na Senhora da Graça (4ª), em véspera do dia de descanso, e na Torre (9ª), mas as fraquezas no contra-relógio limitam-lhe as ambições em Viseu (10ª).
Num pelotão de 125 corredores (o mais curto desde 1993), repartidos por 14 equipas (8 estrangeiras), destaca-se também o italiano Damiano Cunego (Lampre), mas o vencedor do Giro de 2004 (19.º este ano) deverá passar com alguma discrição por Portugal na sua rota de preparação para a Volta a Espanha.
Campeão nacional de fundo, Manuel Cardoso (Liberty Seguros), 26 anos, terá espaço para mostrar a potência do sprint que já lhe valeu seis triunfos esta época, provavelmente com a concorrência de dois veteranos: Cândido Barbosa, que é aos 34 anos o corredor em actividade com mais vitórias de etapas na Volta (22), e o italiano Alessandro Petacchi (LPR Brakes), de 35 anos, que soma 147 vitórias, incluindo 27 no Giro, 19 na Vuelta e 4 no Tour.
As chegadas a Castelo Branco (1ª etapa), Fafe (5ª), São João da Madeira (7ª) e Aveiro (8ª) são as mais propícias a chegadas em pelotão compacto e, destas, as duas últimas farão a transição para os decisivos dias da Serra da Estrela e de Viseu, onde a capacidade de recuperação de esforço terá papel determinante.
Ali chegados, após nove dias de corrida com temperaturas entre 30 e 40 graus centígrados, aqueles que melhor combaterem o desgaste acumulado e maiores reservas de energia tiverem são os que estarão em melhores condições para lutar pela vitória na 71ª edição da Volta a Portugal.